No ano da graça de 2022, na sequência de um surto epidémico (COVID) que durou 2 anos e a todos enclausurou e em plena crise económica, financeira e de carência de recursos humanos, causada pela guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia, que se lhe seguiu, é este o panorama a que assistimos e a situação que vivemos diariamente em alguns aeroportos e com algumas companhias aéreas.
Depois de passarem pelos diferentes serviços aduaneiros, de esperarem na sala de embarque e de, ao sinal de chamada para o mesmo, pacientemente esperarem em filas que, sabe-se lá porquê, emperram sem que sejam dadas explicações os passageiros, já em plena pista, ainda se vêem na contingência de ter de esperar que a tripulação mude para, finalmente, poderem entrar no avião. Não é que seja grave, claro que não, mas é desconfortável e leva-nos a almejar o impossível regresso aos anos e tempos em que tudo decorria com normalidade e com raros sobressaltos ...
Oxalá toda a aparente "generosidade" que tem estado a ser manifestada para com os refugiados ucranianos, sobretudo aquela que é anónima e que resulta de iniciativas individuais ou de grupos isolados, tenha como fundamento intenções e sentimentos, não só genuína como exclusivamente humanitários ...
Provavelmente estarei a ser demasiado cínica (deformação de formação!), mas confesso sentir algum desconforto quando ouço que há indivíduos singulares que, sem qualquer respaldo organizacional ou institucional decidem, de forma impulsiva, ir para a estrada e percorrerem milhares de quilómetros, em direcção a zonas de guerra, com o único intuito de resgatar pessoas em fuga e de as levar de volta aos países de onde são oriundos.
Temo entretanto que, face à enorme vulnerabilidade em que estas famílias actualmente se encontram, estes milhões de mulheres e crianças em fuga, assustadas, confusas, circunstancialmente desenraízadas e separadas dos homens das suas famílias (maridos, pais, irmãos ...), não venham a ser vítimas de outras guerras, de armadilhas organizadas por tenebrosos grupos criminosos que espreitam, exploram e se alimentam destes tipos de fragilidades sociais e humanas.
Quem viu, entre outras, a série Mar de Plástico (2015) na Netflix não pode senão estar alerta para a realidade que é a existência do tráfico de seres humanos, visando o tráfico de orgãos, a exploração laboral, sexual e quejandos.
É preciso vigiar, estar alerta, ter consciência dessa realidade e procurar prevenir, institucionalmente e na medida do possível, este tipo de situações.
Caberá, entre outras, às reconhecidas organizações internacionais mais esta difícil tarefa.