Mostrar mensagens com a etiqueta Letras. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Letras. Mostrar todas as mensagens

Carlos Drummond de Andrade, "Para Sempre"


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

"Lição de Coisas: poesia"

Andrea Japp, "A Dama semTerra"


Condenada a seis dias de "jejum compulsório", sem acesso a Internet e Televisão, decidi reler os três livros de uma trilogia* que há anos tinha lido, de cujo teor já me não recordava mas que me tinha deixado uma boa impressão.
Transportada para a Idade Média - Andrea Japp revela um conhecimento profundo e descreve com mestria os usos e costumes da época - mais precisamente para o ano de 1304, numa França fustigada pela rivalidade entre o Rei Filipe, o Belo, a Igreja e a poderosa Ordem do Templo (séc.XIV), deixei-me enredar pelo ambiente da época, carregado de conspirações políticas, envenenamentos, feitiçaria, Inquisição e processos inquisitoriais.
Um thriler/romance histórico com muitas reviravoltas, que tem como principal personagem Agnès de Souarcy, uma jovem viúva, inteligente, corajosa, honesta e bela, que desperta grandes paixões à sua volta sem que, inicialmente, possamos compreender a sua real dimensão e cujo destino está ligado tanto aos interesses do reino de França como do próprio Cristianismo 

* Vim a saber que existe um quarto livro a acrescentar a esta saga pelo que passa, então, a ser uma tetralogia.

Beatrix Potter, O Mundo Encantado




Impossível resistir ao mundo encantado de Beatrix Potter!...
Como em tudo, na vida, o encanto e o desencanto são realidades com as quais convivemos diariamente, no decurso da nossa existência, mas é a capacidade de encantamento, por parte de quem tem o dom de encantar e de quem a ele é receptivo, que nos faz mover e sonhar, acreditando que vale a pena lutar.

"(…) Eles não sabem que o sonho, 
é uma constante da vida,
 e que sempre que o Homem sonha,
o mundo pula e avança, 
como bola colorida,
entre as mãos de uma criança…"
António Gedeão, "Pedra Filosofal"

Kahlil Gibran e os Filhos


A propósito dos filhos que, sendo nossos, nos não pertencem.

"Teus filhos não são teus filhos
são filhos e filhas da vida
anelando por si própria
Vêm através de ti, não de ti,
e, embora estejam contigo,
a ti não pertencem
Podes dar-lhes teu amor,
mas não teus pensamentos, pois que
eles têm seus pensamentos próprios
Podes abrigar seus corpos,
mas não suas almas, pois que
suas almas residem na casa do amanhã,
que não podes visitar
sequer em sonhos
Podes esforçar-te por te parecer com eles,
mas não procures fazê-los
semelhantes a ti,
pois a vida não recua,
e não se retarda no ontem
Tu és o arco do qual teus filhos
como flechas vivas,
são disparadas
Que a tua inclinação, na mão do arqueiro,
seja para a ALEGRIA"

Kahlil Gibran
Ilustr. Jo Héliotrope, "Près de Maman"

Saint-Exupéry, Relações de proximidade




«...Foi então que apareceu a raposa ...
- Anda brincar comigo ... Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo ... Não tenho intimidade contigo...
- Que significa "ter intimidade" ? ...
- É uma coisa demasiado esquecida ...Significa "ter relações de proximidade".
- Ter relações de proximidade ?
- Sim ... Para mim, tu não passas de um rapazito semelhante a cem mil outros rapazitos. Não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Para ti eu sou uma raposa semelhante a cem mil raposas. Mas se tiveres intimidade comigo, precisaremos um do outro. Tu serás, para mim, único no mundo. E eu serei, para ti, única no mundo...
(...)A minha vida é monótona ... Por isso, aborreço-me um pouco. Mas se tiveres intimidade comigo, a minha vida encher-se-á de sol. Passarei a distinguir um ruído de passos diferentes de todos os outros. Os outros passos fazem-me esconder debaixo da terra. Os teus, como uma melodia, convidar-me-ão a sair da toca.(...)
A raposa calou-se e deteve-se a olhar para o principezinho durante muito tempo.
- Faz favor... tem intimidade comigo - pediu.
- Com muito gosto ... mas tenho pouco tempo. Preciso de ir à descoberta de amigos e de adquirir muitos conhecimentos.
- Só se conhece aquilo com que se tem intimidade ... Os homens deixaram de ter tempo para conhecer seja o que for. Compram coisas feitas aos vendedores. E como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se quiseres ter um, tem intimidade comigo!
- Que hei-de fazer? - perguntou o principezinho.
- Precisas de ser muito perseverante(...). Ao princípio, sentas-te ali na erva, um pouco longe de mim. Espreitar-te-ei pelo canto do olho e tu nada dirás. A linguagem é fonte de mal-entendidos. Depois, dia a dia, vens sentar-te um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.(...).»

"O Principezinho", Lisboa, Publ. Europa - América
Ilustr. "Le petit Prince", A. Saint-Exupéry

"Fables de La Fontaine", no baú das recordações


Illustration de Félix Lorioux

Há já alguns/bastantes anos atrás, o meu filho teve de fazer um trabalho de pesquisa sobre La Fontaine, integrado na disciplina do 5º ano de Língua Portuguesa.
Recordo com prazer o frenesim que foi todo o processo de investigação (no qual era permitido o apoio dos pais) e, posteriormente, o acompanhamento da ansiedade que viveu na fase de selecção de dados e elaboração do seu trabalho.
Meses depois acabei por descobrir este pequeno livro - "Fables de La Fontaine" -, esquecido pelo tempo e escondido entre muitos outros de cuja existência já me não recordava.
Como tenho uma predilecção especial por este ilustrador, não resisto a partilhar 2 páginas.



Illustration de Félix Lorioux

Richard Bach, "Vê mais longe a gaivota que voa mais alto"



«(...) À medida que os dias corriam, Fernão dava consigo a pensar cada vez mais na Terra, de onde viera. Se lá tivesse sabido um décimo que fosse do que aprendera ali, como a vida teria tido outro significado!
Deixou-se ficar ali na areia a pensar se haveria lá alguma gaivota a tentar ultrapassar os seus limites, a tentar perceber que o voo era mais que um meio para arrancar uma migalha de pão de um barco.
Talvez até houvesse alguma banida por ter falado a verdade perante o Bando.»

Ilustr. Google
Bach, Richard
in Fernão Capelo Gaivota

Conferências do Estoril 2011 - Mia Couto (abordando o tema do Medo)




"... O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo.
No horizonte vislumbravam-se mais muros do que estradas ..."

"... Para fabricar armas é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos é imperioso sustentar fantasmas ..."

"... Há quem tenha medo que o Medo acabe."

Abraham Lincoln, "Carta ao professor do seu filho"



"Ele terá de aprender, eu sei,
que nem todos os homens são justos,
nem todos são verdadeiros,
Mas por favor, ensine-lhe, também,
que para cada vilão há um herói;
que para cada político egoísta,
há um lider dedicado …
Ensine-lhe, por favor, de que para cada inimigo haverá, também, um amigo.
Se puder, mantenha-o afastado da inveja,
e ensine-lhe o segredo da alegria tranquila.
Deixe que aprenda cedo
que os brigões são os mais fáceis de derrotar…
Se puder, faça-o maravilhar-se com os livros…
Mas dê-lhe também tempo para reflectir sobre o eterno mistério das aves que voam no céu,
sobre a atracção das abelhas pelo sol,
e a beleza das flores que crescem nos campos e verdes colinas.
Na escola ensine-lhe
que é bem mais honrado falhar do que enganar…
Ensine-o a acreditar nas suas ideias, mesmo que todos lhe digam que estão erradas… Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros.
Procure transmitir ao meu filho
a força para se não deixar influenciar pelas multidões,
mesmo quando todos embarcam na mesma carruagem...
Ensine-o a ouvir a todos...
mas, na hora da verdade, a saber decidir sozinho, de acordo com a sua consciência.
E se puder,
ensine-o a rir quando estiver triste e mostre-lhe que não é vergonha nenhuma chorar...
Ensine-o a saber lidar com os cínicos e a ter cautela com a demasiada doçura(servilismo)...
Ensine-o a reconhecer e promover as suas capacidades físicas e intelectuais mas a não vender, nunca, a sua alma e coração.
Ensine-o a fechar os ouvidos perante uma multidão vociferante e a lutar, com firmeza, por aquilo que pensa estar certo.
Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço.
Deixe-o ter a coragem de ser impaciente...
e a paciência de ser corajoso
Ensine-o a ter, sempre, uma fé sublime em si próprio pois, só assim, poderá ter a mesma fé na humanidade.
Eu sei que estou a pedir muito mas, por favor, veja o que pode fazer.
O meu filho é um bom rapaz!"

Trad. e Adaptação
Maria Abreu


*Correcção: parece haver dúvidas sobre a atribuição de autoria deste pequeno manifesto.
Insisto na sua publicação atendendo ao carácter e dignidade de que está imbuída.

"The TRUTH About Ngozi Fulani: Meghan Markle's ...", uma perspectiva a considerar

  Uma análise de conteúdo inteligente, clara e desmistificadora do que pode ter acontecido e, provavelmente, aconteceu.