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"O Liberalismo funciona e faz falta"

 


Depois da espoliação de que muitos de nós temos sido alvo e vítimas, em nome de um bem maior cujo destino foge ao nosso controlo, não nos resta outra alternativa que não seja a de, quando chamados a exercer o nosso direito de voto, procurarmos alternativas qua possam, eventualmente, responder às nossas expectativas.

O Iniciativa Liberal, se bem que um partido bastante jovem e pouco conhecido, parece oferecer as condições que justifiquem uma aposta,enquanto força política alternativa, com capacidade de alterar o paradigma de governação a que temos estado sujeitos, até então.

Atendendo ao seu curriculum académico e empresarial o seu Presidente, João Cotrim de Figueiredo, aparenta ter a experiência e formação necessárias à prossecução das linhas programáticas que defende e de que é arauto.

Que venha por bem e que ocupe, enquanto partido político, a posição intelectual que lhe compete.

Pacheco Pereira, "Em Defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social" (2013)



Portugal e os Anos de Pesadelo

(...)os tempos não estão para inércias nem confortos nem para encontrar pretextos do passado ou diferenças do futuro para não se lutar, não necessariamente pelas mesmas coisas mas contra as mesmas coisas. Em momentos de profunda crise tem que ser assim e é esse o sentido mais profundo deste tipo de iniciativas que devemos a Mário Soares. O incómodo que geram no Poder, e mesmo na oposição, são o significado disso mesmo..."

"(...)É ambígua esta unidade, é sem dúvida, mas seria muito mais perigoso não ter qualquer forma de entendimento quando o mal que se está a fazer ao País, a Portugal, a tempestade que nos assola é tão grave que considerações de conveniência só servem o deus dos trovões e da chuva que nos quer afundar o barco. Sim, até porque muitos marinheiros já estão na água, como aqueles a quem se chama eufemísticamente desempregados de longa duração. Ou seja, aqueles Portugueses cuja vida está estragada até ao fim dos seus dias..."

"(...) não, os que aqui estão não estão a defender coisa nenhuma, mas a atacar a iniquidade, a injustiça, o desprezo,...o cinismo dos poderosos para quem a vida decente de milhões de pessoas é irrelevante, é entendida como um custo que se deve poupar..."

Da importância do Voto


Porque muitos lutaram, sofreram e morreram em nome dos "direitos" que, actualmente e na nossa civilização, temos adquiridos,
muitos o continuam a fazer, esforçada e abnegadamente, por esse mundo fora,
e aquilo que temos como garantido, hoje, poderá não o ser amanhã,
é importante..., mesmo fundamental...,
que usemos o nosso direito de voto,
que expressemos a nossa opinião,
que participemos na escolha de quem orientará o governo e tomará decisões no nosso país,
enquanto garantia da nossa condição de cidadãos com voz activa, atentos e vigilantes.

Revolutionary Images (FB)

Bases do Serviço Nacional de Saúde, 1978



 
Projecto Lei 157 I

Em tempo de campanha eleitoral e num momento em que muitos criticam, por razões meramente eleitoralistas, algumas das actuais disfuncionalidades do SNS, convém recordar que, os que actualmente e de forma oportunista mais criticas lhe fazem, são precisamente os mesmos que, em tempos, teriam impedido não só a sua criação como a sua implementação, caso o peso da sua votação o tivesse permitido.

A Islândia e a primeira e-Constituição (2011)


L'Islande et la première "e-Constitution"
Le Monde, 23.06.2011
 
«Conséquence de la crise économique, l'Islande a entrepris de réécrire sa Constitution. Les résultats du référendum de 2010 avaient démontré que les Islandais (93 %) ne souhaitaient pas porter la responsabilité financière de la faillite de la banque IceSave.

Tenant compte de ce message, le gouvernement a décidé d'actualiser la Constitution islandaise de 1944, adoptée au moment de l'indépendance avec le Danemark.

Au-delà de cette décision, l'Islande achoisi de mettre en œuvre la démocratie numérique en adoptant un processus politique inédit qui bouleverse la tradition juridique. Vingt-cinq conseillers issus de la société civile – avocats, journalistes, étudiants ou encore économistes – sont en charge de superviser l'élaboration de la nouvelle Constitution, participant ainsi au renouvellement du concept d'"assemblée constituante".

L'innovation ne s'arrête pas là, puisque le processus de révision de la loi fondamentale se veut collaboratif.
En effet, les citoyens islandais sont invités à se prononcer sur les projets d'articles mis en ligne régulièrement sur le site du gouvernement. Les internautes peuvent proposer leurs commentaires et suggestions d'amendements via les pages Facebook, Twitter et Flickr du Conseil constitutionnel islandais (Stjórnlagaráð), mais aussi suivre les réunions publiques retransmises en direct sur la chaine Youtube du Conseil.

Ce processus innovant se démarque des assemblées constituantes restreintes ou réservées aux professionnels du droit. Le résultat sera soumis à référendum afin que les Islandais approuvent ou rejettent la nouvelle e-Constitution.

Si l'issue du vote est favorable, le Parlement (Althing) ne sera pas en mesure d'apporter des modifications au texte approuvé par les citoyens islandais.»

Agora que estamos em plena época eleitoral, relembrei este artigo de 2011.
Exemplar...todo este percurso com vista a uma maior e mais genuína participação democrática na Islândia!...

Portugal, os anos de Pesadelo e as Reflexões de uma Escritora (2014)


O meu país não é deste Presidente, nem deste Governo
Alexandra Lucas Coelho
08/04/2014

Discurso feito na sequência do prémio APE, que lhe foi atribuído pelo romance "E a Noite Roda"

«(...)Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do Governo do seu partido. É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o Governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este Governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “ total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”.

Este país é dos bolseiros da FCT que viram tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselhos podia eu dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar. 

Eu estava no Brasil, para onde ninguém me tinha mandado, quando um membro do seu Governo disse aquela coisa escandalosa, pois que os professores emigrassem. Ir para o mundo por nossa vontade é tão essencial como não ir para o mundo porque não temos alternativa.

Este país é de todos esses, os que partem porque querem, os que partem porque aqui se sentem a morrer, e levam um país melhor com eles, forte, bonito, inventivo. Conheci-os, estão lá no Rio de Janeiro, a fazerem mais pela imagem de Portugal, mais pela relação Portugal-Brasil do que qualquer discurso oco dos políticos que neste momento nos governam. Contra o cliché do português, o português do inho e do ito, o Portugal do apoucamento. Estão lá, revirando a história do avesso, contra todo o mal que ela deixou, desde a colonização, da escravatura…»

Portugal, os anos de Pesadelo e o SNS (2013)


Esta carta foi publicada no jornal Público de 5ª feira, 10 de janeiro de 2013. A Profª Teresa Beleza é irmã de Leonor Beleza e Miguel Beleza.
"Carta a minha Mãe sobre o SNS e outras coisas em Portugal"
por Teresa Pizarro Beleza*

"Mãe, sabes que agora em Portugal mandam uns senhores que estão a dar cabo do Serviço Nacional de Saúde? E que dizem que é por causa de uma tal de troika, que agora manda neles? Lembras-te da "Lei Arnaut", que, segundo ele mesmo diz, tu redigiste, depois de muito pensares e estudares sobre o assunto, com a seriedade e o empenho que punhas em tudo o que fazias?

Lembras-te das nossas conversas sobre a necessidade de toda a gente em Portugal ter acesso a cuidados de saúde básicos de boa qualidade e de como essa possibilidade fizera em poucos anos baixar drasticamente a mortalidade materna e infantil, flagelos nacionais antigos, como uma das coisas boas que se tornaram realidade depois de 1974 e com a restauração da democracia?
Lembras-te de quando eu te dizia que eras tão mais socialista do que "eles", os do Partido Socialista, e tu te zangavas porque não era essa a tua imagem e a tua crença?

E quando eu te dizia que o ministro António Arnaut era maçon e tu não acreditavas, porque ele era (e é) um homem bom - e para ti a Maçonaria era a encarnação do Diabo...

Mãe, tu, que te dizias e julgavas convictamente monárquica, católica, miguelista, jurista cartesiana (isso era o que eu te dizia e que penso que eras, também), que conhecias a Bíblia e Teilhard de Chardin como ninguém e me ensinaste que Deus criara o homem e a mulher à Sua imagem, quando pronunciou o fiat, porque assim se diz no Génesis...

Tu que dizias que o problema dos economistas era que não tinham aprendido latim... e me tiravas as dúvidas de português e outras coisas, quando me não mandavas ir ao dicionário, como agora eu mando o meu Filho...

Tu que foste o meu "Google", às vezes renitente, quando este ainda não existia... Sabes que agora manda em Portugal gente ignorante e pacóvia, que nem se lembra já de como se vivia na pobreza e na doença, que julga que o Estado se deve retirar de tudo, incluindo da Saúde, e confunde a absoluta e premente necessidade de controlar e conter o imenso desperdício com a ideia de fechar portas, urgências claramente úteis social e geograficamente...
Sabes que fecharam o Serviço de Urgência e o excelente Serviço de Cardiologia do Hospital Curry Cabral sem sequer prevenirem ou consultarem o seu chefe? Onde irão agora todas aquelas pessoas tão claramente pobres, vulneráveis e humildes que tantas vezes lá encontrei e que não pareciam capazes de aprenderem outro caminho, outro destino, de encontrarem outros dedicados e pacientes "ouvidores"?

Sabes que um ministro qualquer disse que o edifício da Maternidade Alfredo da Costa não tinha qualquer interesse urbanístico ou arquitectónico, para além de condenar ao abate essa unidade de saúde, com limitações já evidentes, mas que tão importante foi para tanta gente humilde ter os seus filhos em segurança? Será mesmo que não a poderiam "refundar", como agora se diz? Ou quererão construir um condomínio fechado, luxuoso e kitsch, no meio de uma das minhas, das nossas cidades?
Lembras-te de me ires buscar à MAC quando nasceu o meu Filho e de como te contei da imensa dedicação do pessoal médico e de enfermagem e da clara sobre-representação de parturientes de origem social modesta, imigrantes, ciganas, ou simplesmente pobres?

Sabes que há muita gente que pensa que a iniciativa privada, incontrolada e à solta, é que vai salvar Portugal da bancarrota, e que ignora o sentido das palavras solidariedade, justiça, igualdade, compaixão?

Sabes, Mãe, eu lembro-me de ver pessoas que partiram de Portugal para o mundo em busca de trabalho e rendimento a viver em "casas" feitas de bocados de camioneta, de restos de madeira, de cartão e outros improváveis e etéreos materiais, emigrantes portugueses que foram parar ao bidonville em St Denis, nos arredores de Paris, num Inverno em que a temperatura desceu a 20 graus Celsius abaixo de zero (1970). Nas "paredes", havia toda a sorte de inscrições contra a guerra colonial e contra o regime que então reinava em Portugal.

O padre Zé, o nosso amigo da Mission Catholique Portugaise que me acompanhava e me quis mostrar o bairro, proibiu-me de falar português e de sair do carro enquanto ali passávamos... e aqui em Portugal eu vi tanta miséria envergonhada, homens de chapéu na mão a pedir emprego, mulheres e crianças a pedir esmola, apesar de todas as leis e medidas que o Estado Novo produziu para as esconder, como já fizera a Primeira República.

A pobreza e a vadiagem não se eliminam com Mitras e medidas de segurança, mas com produção e distribuição de riqueza e de justiça social. Com a promoção da igualdade e da solidariedade, como manda a Constituição.

E a Saúde, Mãe, que vão fazer dela? Da saúde dos pobres, dos velhos, das crianças, dos que não têm nem podem ter seguros de saúde de luxo, porque não têm dinheiro, porque já não têm idade, ou porque não têm saúde?
E as crianças, Mãe? Vão de novo morrer antes do tempo porque o parto foi solitário ou mal assistido, porque a saúde materno-infantil passou a ser de novo um bem reservado a alguns privilegiados, ou porque a "selecção natural" voltará a equilibrar a demografia em Portugal, recolhidas as mulheres a suas casas, desempregadas e de novo domesticadas, e perdida de novo a possibilidade de controlo sobre a sua própria fertilidade?

O planeamento familiar, que tu tão bem explicaste que deveria segundo a lei seguir a autonomia que o Código Civil reconhece na capacidade natural dos adolescentes - tu, católica, jurista, supostamente conservadora (assim te pensavas, às vezes?)...

Sabes que aqui há tempos ouvi uma jurista ignorante dizer em público que só aos 18 anos os jovens poderiam ir sozinhos a uma consulta de planeamento familiar, quando atingissem a maioridade, sem autorização de pai ou mãe? Ai, minha Mãe, como a ignorância é perigosa... Será que nos espera um qualquer Ceausescu ou equivalente, dado o progressivo estrangulamento político e social a que a necessidade económica e a cegueira política nos estão levando?

Os traços fascizantes que são visíveis na repressão da liberdade de expressão e de manifestação, em tudo tão contrários à Constituição da República, serão só impressão de uns "maníacos de esquerda", como dizem umas pessoas que há tão pouco tempo garantiam que essa coisa de esquerda e direita era coisa do passado?

Mas as crianças são o futuro, Mãe, que será deste país sem elas, sem a sua saúde e sem a sua educação, sem o seu bem-estar, sem a sua alegria? Eu lembro-me tão bem dos miúdos descalços e ranhosos nas ruas da minha infância... e da luta legal, tão recente ainda, quem sabe se perdida, contra o trabalho clandestino, ilegal e infame das crianças a coserem sapatos em casa, a faltarem à escola, a ajudarem as famílias, ainda há tão pouco tempo, ou dos miuditos com carregos e encargos maiores que eles, à semelhança das mulheres da carqueja a subirem aquela rampa infame que Helder Pacheco, o poeta-guia do nosso Porto, tão bem descreve...

"Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim! Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!... Porque padecem assim?!..."
Mãe, se agora cá voltasses, ao mundo dos vivos, acho que terias uma desilusão terrível. Melhor que não vejas o que estão fazendo do nosso pobre país.
Da tua Filha, com muita saudade,

Maria Teresa"
Ericeira, Portugal, Europa, dia 31 de Dezembro de 2012

* Professora de Direito Penal, directora da Faculdade de Direito da
Universidade Nova de Lisboa. tpb@fd.unl.p

Em tempo de rentrée política e em pleno período de campanha eleitoral convém relembrar,  não só o que se passou nesta fase tenebrosa da vida do país como, também, aquilo que foi dito e ficou registado.



A propósito da Amazónia (censurado)


⁠⁠⁠⁠ "A TV apresentou esse vídeo hoje pela manhã logo em seguida o Congresso e Senado ligaram para TV intimando sob ameaça que retirassem dos demais telejornais e já foi retirado do YouTube" Fonte: FB

Noam Chomsky, O Linguísta, filósfo, sociólogo, activista ... o socialista libertário



Socializar custos e riscos e privatizar os lucros

Um principio básico do moderno capitalismo de Estado é o de que os custos e riscos sejam socializados, até ao limite possível, enquanto os lucros são privatizados."


A arte de como manter um povo passivo e obediente.

Da Servidão Moderna, Documentário de 2009




"A servidão moderna é uma escravidão voluntária, consentida pela multidão de escravos que se arrastam pela face da terra. Eles próprios compram as mercadorias que os escravizam cada vez mais. Eles próprios procuram um trabalho cada vez mais alienante que lhes é concedido generosamente se se mostrarem suficientemente sensatos. Eles mesmos escolhem os mestres a quem deverão servir. Para que esta tragédia absurda possa ter lugar, foi necessário tirar desta classe a consciência de sua exploração e de sua alienação. Aí está a estranha modernidade da nossa época. Contrariamente aos escravos da antiguidade, aos servos da Idade média e aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje em dia frente a uma classe totalmente escravizada,que o desconhece, ou melhor, não quer saber. Eles ignoram, assim, a revolta que deveria ser a única e legítima reacção dos explorados. Aceitam sem discutir a vida lamentável que se construiu para eles. A renúncia e a resignação são a fonte de sua desgraça ..."

"... No sistema económico dominante, já não é a procura que determina a oferta, mas a oferta que determina a procura.
É assim que, periodicamente, novas necessidades são criadas e rapidamente consideradas vitais pela imensa maioria da população.
Foi primeiro o rádio, depois o carro, a televisão, o computador e, agora, o telemóvel.
Todas estas mercadorias distribuídas massivamente, num curto espaço de tempo, modificam profundamente as relações humanas. Servem, por um lado, para isolar um pouco mais os homens dos seus semelhantes e, por outro, para difundir as mensagens dominantes do sistema..."

Convenção sobre Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, 70 anos

"Em tempos de crescente antissemitismo, fanatismo contra muçulmanos e outras formas de ódio, racismo e xenofobia, reafirmemos o nosso compromisso de defender a igualdade e a dignidade de todos."
António Guterres, Secretário-Geral da ONU

Manuais escolares, gratuitidade e reutilização


"Todos os anos, eu e muitas famílias, temos o mesmo problema :
o que fazer, como rentabilizar e dar utilidade aos livros - que tão caros foram! - de que os nossos filhos não precisam mais... Como combater o desperdício nesta área ...
Há países, em que os livros são/eram (África do Sul, por exemplo) fornecidos/emprestados pelas próprias escolas com a condição de, no fim do ano lectivo, serem devolvidos às mesmas nas melhores condições possíveis.
Para além de ser um alívio para as bolsas dos pais, esta política tinha implícita um outro principio - cultivar, entre as crianças e respectivas famílias, a preocupação e o respeito pelos bens alheios que era necessário fossem preservados a fim de continuarem a ser úteis a outros.
Quanto a nós, sem uma cultura de responsabilidade e curriculums adequados às necessidades do dia a dia damo-nos ao luxo de desperdiçar, não só o material de trabalho e investimento nele investido como, também e fundamentalmente, a oportunidade única de, na faixa etária devida, não induzirmos e sensibilizarmos as nossas crianças para noções tão básicas como a necessidade de poupar e de aprender a gerir, de forma inteligente e racional, os parcos recursos de que a maior parte dispõe."
Maria Abreu
09/07/2010


Há 8 anos atrás, em plena crise económica e financeira, ainda tinha um filho a frequentar a escola secundária e manifestei-me num outro blogue sobre o desperdício e irracionalidade que era, todos os anos, vermo-nos obrigados a despender quantias astronómicas na aquisição de novos manuais, enquanto íamos acumulando os livros dos anos anteriores nas prateleiras.
Ainda hoje sofro desse mal!
Entretanto, perante as notícias divulgadas nestas últimas semanas a propósito da discussão e aprovação do OE 2019 e da medida que contempla a extensão da gratuitidade dos manuais escolares a todos os alunos do ensino público até ao 12º ano, confesso ter ficado indignada.
Não pelo facto da gratuitidade em si, mas pela ausência de critérios que justificassem a atribuição de uma tal benesse alargada a toda a população estudantil, em termos de rendimentos familiares.
Insatisfeita com o que me parecia ser, não só uma irracionalidade como uma injustiça, resolvi fazer uma brevíssima pesquisa e hélas ..., feitas as necessárias conexões, acabei por encontrar a explicação e justificação de que estava a precisar para compreender, aceitar e apoiar.

Excerto da Proposta do OE para 2019
Os alunos do 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico devolvem os manuais no fim do ano letivo, à exceção das disciplinas sujeitas a prova final de ciclo do 9.º ano;
Os alunos do ensino secundário mantêm em sua posse os manuais das disciplinas relativamente às quais pretendam realizar exame nacional, até ao fim do ano de realização do mesmo.

"A gestão de uma bolsa de manuais escolares, envolvendo a seu depósito nas escolas e posterior redistribuição deverá ser pensada e anunciada pelo governo em tempo útil."

Ignorando se de forma intencional ou por falta de sensibilização para o problema, tem sido esta a informação, complementar e de grande relevo que nos tem sido sonegada, não só pelos meios de comunicação social como por todos aqueles que têm abordado o tema.
Não me coube a sorte, ao tempo, de gozar do privilégio que será uma tal poupança no orçamento familiar de todas as familias!

Mia Couto, "E se Obama fosse africano" (2004)


«Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reações eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano."
O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?)
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas - tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos..
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem exceções neste quadro generalista. Sabemos todos de que exceções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama.
Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa. Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exatamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política.
Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente.
É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.»

Jornal "SAVANA",14 de Novembro de 2008

Mia Couto, "O país dos dez por cento"


«Havia um país em que tudo funcionava na base dos dez por cento.
Era o médico:
- Mandas-me esse doente e eu pago-te 10%.
Era a criança de rua para um candidato a criança de rua:
- Deixo-te guardar carros na minha área e dás-me 10 por cento.
Era o chefe:
- Deixo a vossa empresa ganhar o concurso e vocês retribuem com 10 por cento.
Era o polícia:
- Estou a telefonar para lembrar aquela multa que perdoei... recorde-se do combinado.
Era o director:
- Coloquei-te no projecto como técnico... já sabes, não é?
Era o outro chefe em sussurro para o empresário estrangeiro:
- Podem investir no nosso país mas... há comissões, é normal...
Tudo parecia correr bem, no país dos dez por cento. Na aparência, pelo menos... As pessoas trabalhavam a dez por cento, sonhavam nessa percentagem, viviam nessa escassa perspectiva. Tudo a dez por cento.
Mesmo a esperança a ser investida no futuro ocupava apenas uma fracção do coração.
Certo dia, porém, alguém pensou tomar uma iniciativa a 100 por cento. Meu dito, meu feito. O homem arregaçou as mangas e trabalhou. E logo os amigos, familiares e colegas desataram a rir. Que o esforço seria em vão. Porque, nesse país, o construir era entendido como "comer". E ninguém pode "comer" sozinho. Viria o fiscal e pediria 10 por cento. Viria o camarário e pediria 10% para as licenças. Viria o ministerial e exigiria 10 por cento. Ou mais.
No final, ele acabaria por ficar com menos de 10 por cento das ideias, e do esforço aplicado resultaria quase nada. Que no país dos dez por cento o melhor é não fazer. O melhor é não construir, nem trabalhar. O que é bom e saudável é parasitar os que querem fazer. Sobretudo, os que querem fazer a cem por cento.
E assim, embora aparentando toda a normalidade, o país a dez por cento padecia de uma doença fatal.
O problema é que um país a dez por cento só pode ser dez por cento país!»

Mia Couto in Beco com saída - Revista mais
Maketo, "Abstract curves" Artwork

Vandana Shiva, o papel das mulheres no futuro



Precisamos de conhecimentos sobre como tratar, como partilhar, como fazer, como ser humanos, no futuro.
O nosso verdadeiro desafio é contra a estupidez!!!

"The TRUTH About Ngozi Fulani: Meghan Markle's ...", uma perspectiva a considerar

  Uma análise de conteúdo inteligente, clara e desmistificadora do que pode ter acontecido e, provavelmente, aconteceu.